Fotografia: Glauber Bassi
@glauberbassi

 

Raíssa Marques nasceu no ano de 1990 em Eloi Mendes, uma cidade com pouco mais de 30 mil habitantes no interior de Minas Gerais. Até se tornar mulher trans teve uma trajetória de superações assim como tantas outras que tomaram a mesma decisão.

A infância foi marcada por anos difíceis devido ao alcoolismo e vicio em drogas do pai.  Até os dez anos viveu vendo a mãe ser agredida. Uma situação difícil para qualquer criança.

Aos 13 anos começou a mudar. Com traços femininos, agia diferente dos meninos da mesma idade. Era bem tratada entre as meninas, mas, excluída de tudo pelos garotos. Foi proibida pela diretora da Escola de continuar próxima ao seu melhor amigo porque agia de maneiras femininas. O que ela chama de “cancelamento de pessoas” continuou lhe trazendo sofrimento.

Ela fala do momento decisivo em que mudou a sua vida:

“Depois de tantos fatos acontecidos VIROU uma CHAVE no meu universo e eu me entreguei para a minha verdade.”

Aos 14 anos, quando a família descobriu enfrentou uma grande resistência. Foi difícil, mas, Raíssa resolveu sua questão familiar: “Mesmo já sendo pelos anos 2000 minha mãe foi muito rigorosa, mas, hoje em dia nos perdoamos e nossa vida só tem sido de bênçãos!” afirma.

Os percalços não a impediram de sonhar e buscar uma vida melhor. Com 16 anos saiu de Eloi Mendes para morar em São Paulo e encontrou na metrópole acolhimento, amigos e muito aprendizado.

“Não tive o apoio da família como eu gostaria na ocasião, mas, a vida me deu amigas, que fizeram totalmente a diferença. Pessoas que deram a oportunidade de me alto ajudar a sair da caixinha e me mostrar como sou de verdade. Sou muito grata!”

Hoje quem a vê pelas ruas de Paris andando de Skate ou tomando um café feliz e bem resolvida não imagina tudo que vivenciou pra chegar ali.

“Em 2009 tive oportunidade de morar na Itália é fiquei por lá até 2018. Minha amiga Patrícia Nikita, em 2019, me deu uma força para vir conhecer a França e me apaixonei pelo lugar. Hoje estou aqui com muitas saudades do Brasil e da família.”

Em meio a tudo que estamos vivendo Raíssa vê os pontos positivos:

“A Pandemia nos deixou um legado muito importante. Um simples abraço ou um beijo nos salvam. Passei a ajudar ao próximo muito mais do que fazia antes e aprendi que boas palavras curam… Uma palavra de incentivo muda o caminho de alguém para a luz! O isolamento foi um momento complicado, mas, fortaleci a minha fé, Deus é maravilhoso. Percebi o quanto é importante ter uma amiga do lado. Ninguém é sozinho.”

Quando indagada sobre quais as diferenças entre viver na Europa e no Brasil é incisiva.

“As diferenças entre o Brasil e a Europa se resumem numa única palavra: Educação. O europeu é muito educado e isso realmente foi o que mais me impactou. Ainda assim, existem pessoas boas ou não em qualquer país do mundo.”

“Também existem semelhanças… O preconceito em relação ao universo LGBT+ ainda existe e podemos sentir na hora de nos verem como humanos e observarem nossos corações. Eu acredito que nós temos que nos alimentarmos de nossa própria empatia.”

Instagram: raissamarques164