Quando você faz algo maior que existe propósito, todas as dificuldades são transformadas em determinação, aquele trabalho que para uns é desgastante, para outros se torna um descanso emocional e o início da construção de uma conquista geracional” Anderson de Mesquita.

Como tudo começou

Há mais de 40 ANOS,  o avô “Sr. Sebastião Gonçalves” descendente de italianos, muito conhecido na cidade por “Bastião Eugenio” (Eugenio vem do nome do Bisavô, pois os povos tradicionais usavam muito essa união do primeiro nome com o segundo do Pai para dirigir a palavra), produzia cafés de alta qualidade. Na sua época, tudo era muito difícil, inclusive, a informação não era tão abrangente e fácil de acessar como é hoje, pois os recursos eram limitados e se atuava com o que tinha na mão, ou seja, a disposição naquele momento.

No ano de 2009, em 13 de outubro, o Sr. Sebastião  Gonçalves veio a falecer, e as terras tiveram um tempo de descanso de produção por aproximadamente 3 anos. A natureza e a vegetação ficaram responsáveis por cuidar e passar por um processo de recomposição sobre tudo o que já havia sido feito durante todos aqueles anos.

Ao final de 2012, Sr. Willians e Sra. Lázara (filha de Sr. Sebastião) tomaram a decisão de adquirir  as partes da herança de todos os irmãos, que eram em 5 filhos e, a partir daí, uma nova história começou a ser escrita.

 O Sitio Congonhas

Crédito: Sitio Congonhas
Crédito: Sitio Congonhas

A propriedade está localizada na cidade de Jacutinga/MG, uma área privilegiada entre as montanhas do Sul de Minas à 1.100 metros de altitude, é região de clima apropriado para cultivo de café arábica, proporcionando notas frutadas, trazendo um teor agradável de doçura e um equilíbrio entre corpo e acidez. “um café especial de verdade precisa ter todas estas características bem apresentadas na xícara”, revela  Anderson de Mesquita.

O Sítio Congonhas conta com cerca de 10 mil pés plantados, com uma produção média de 35 sacas por hectares. O cafezal é formado com quatro tipos de variedades –Catuaí Vermelho, Catuaí Amarelo, Arara e Obatã, em uma área de 4 hectares, sendo que 2 estão destinados somente para a produção de cafés especiais. “Pretendemos em 2023, considerar o plantio de novas variedades e estabelecer novas áreas de monitoramento, pois nosso foco nunca foi produção em alta escala, mas buscar alta qualidade na xícara”, esclarece Mesquita.

 Crédito: Sitio Congonhas - Sr. Willians e a Sra. Lázara
Crédito: Sitio Congonhas – Sr. Willians e a Sra. Lázara

Para obter um café com maior complexidade,  a propriedade trabalha com  os Nano Lotes, que estão sendo replicados pelo terceiro ano. São feitos através de uma colheita seletiva de Catuaí Vermelho e Catuaí Amarelo, colhido pelas mãos do Patriarca e  Matriarca da família com apenas 1 saca de 60kg no ano. São cafés preparados no processo de seca natural onde altera-se a forma de manejo, permanecendo por um longo período de seca. O resultado é gratificante, trazendo notas de frutas vermelhas, cereja, jabuticaba; e são comercializados somente como edição exclusiva e em lista de espera.

Crédito: Sitio Congonhas / Plantação de bananas no meio do cafezal”

“Devido ao clima da região, os cafés da propriedade, tendem a ter notas frutadas e isso para nós, produtores de cafés especiais, é muito satisfatório. Todos os anos, os cafés, apresentam uma bebida agradável, leve e prazerosa de saborear. A busca para obtermos os melhores grãos exige estudo, foco e persistência. Sempre iremos aprimorar e inovar a cada ano com intuito de trazer novas experiências e sabores para a xícara”, explica Anderson de Mesquita.


Processo de Colheita e Seca dos Lotes

Crédito: Sitio Congonhas – Colheita seletiva
Crédito: Sitio Congonhas – Colheita seletiva

A colheita costuma iniciar no final do mês de Abril e começo de Maio. Os proprietários estão  sempre atentos e trabalhando para manter um planejamento, porém, este ano de 2022, foi atípico, devido à escassez de mão de obra na região.

Crédito: Sitio Congonhas
Crédito: Sitio Congonhas

A área de cultivo de café, está plantada numa região de montanha, exigindo que o trabalho na lavoura seja feito manualmente, assim como toda colheita é realizada de forma seletiva por homens e mulheres do campo.

Depois , os lotes de cafés passam por um processo de lavagem, separação e seleção das boias de forma manual, em seguida, vão para o terreiro de cimento, para que a seca seja realizada de forma natural e homogênea, usando 100% as características do sol como  melhor aliado.

Crédito: Sitio Congonhas – secagem no terreiro
Crédito: Sitio Congonhas – secagem no terreiro

Sob o terreiro, o café permanece diariamente e de hora em hora, é cuidado com muita atenção e amor pelas mãos do Sr. Willians e a Sra. Lázara. Eles são os protagonistas deste trabalho minucioso que é feito dentro da propriedade.

Torra de Café no Sítio

Crédito: Nousnou Iwasaki
Crédito: Nousnou Iwasaki

A torra de café é produzida pelo Patriarca da família. O processo é feito de forma artesanal   e preparada na propriedade. “Para o portfólio de cafés especiais, é realizado quatro tipos de torras – Torra Clara, Torra Média Chocolate, Torra Média Escura e Torra Escura. Nada de Forte e Extra Forte, no café especial isso não existe,” argumenta Anderson de Mesquita.

Atentos ao mercado consumidor, o Sítio Congonhas, coleta depoimentos do seu público-alvo, de pessoas que consomem os seus cafés, orientando cada consumidor na escolha do seu primeiro lote.

Armazenamento dos Cafés

Crédito: Tina Guina
Crédito: Tina Guina

Quando os cafés atingem os níveis de 11,5% a 11%, todos os lotes são ensacados em coco, retirados do terreiro e armazenados. Quando o processo da seca e o armazenamento são finalizados, é acionada  a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural , EMATER, que realiza o beneficiamento e assim ajuda a manter o café com maior assertividade nos níveis de porcentagem de água dos grãos, preservando a qualidade e sua proteção por muito mais tempo.

Utilizam  sacarias GrainPro que favorece os cuidados  com a qualidade e armazenamento de grãos já beneficiados, junto, usam uma segunda sacaria JUTEX, feita 100% de polipropileno, não causa alergia no manuseio, de fácil limpeza e contribui para maior tempo de armazenamento.

Manejo Orgânico

Crédito: Sitio Congonhas -Plantando café
Crédito: Sitio Congonhas -Plantando café

Outro fator, que para nós é importante, são que as nossas variedades de cafés são produzidas sem agrotóxicos; assim como todos os outros frutos, legumes e verduras que existem na propriedade. Acreditamos num consumo mais sustentável e consciente, além de trazer muitos benefícios para a saúde de todos”, elucida Mesquita.

Eles realizam três adubações utilizando compostos orgânicos, esterco de galinha, adubos verdes e palha de café. A propriedade faz uma coleta de solo anual e através desta identificam as necessidades do solo e aplicam os nutrientes necessários para que os cafés possam se beneficiar durante seu período de preparação e produção. O manejo do solo é um dos principais fatores que incidem diretamente a adaptação das plantas, para um bom desenvolvimento das cultivares, com o intuito de obter-se uma produção saudável.

No sítio, utilizam, em especial, a casca de café para adubação. Segundo os estudos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária –EMBRAPA, a mesma pode ser aplicada como excelente fornecedora de matéria orgânica, sendo uma das maiores fontes de potássio e nitrogênio para os cafés. Também como benefício, ela ajuda a proteger o solo contra erosões, mantém a umidade por mais tempo, principalmente quando há chuvas, e melhora a atividade biológica do solo.

As Vantagens do Manejo Orgânico

 Crédito: Sitio Congonhas Catuaí Amarelo
Crédito: Sitio Congonhas Catuaí Amarelo

O Solo se mantém muito mais fértil e produtivo, não degrada a parte biológica e produção de fungos importantes no enriquecimento do terreno, evita a contaminação da água, solo freático, nascentes, baixo impacto ambiental, pode-se  ter rotatividade de cultura no mesmo local que a terra responde muito bem, favorece a sustentabilidade, produção de alimentos mais saudáveis e de alta qualidade e, beneficia a colonização de abelhas, trato para outros animais nativos, entre tantos outros pontos favoráveis que poderia citar”, esclarece Anderson de Mesquita.

Mercado, Nova Marca & Clube do Café

Crédito: Sitio Congonhas – nova embalagem & Marca
Crédito: Sitio Congonhas – nova embalagem & Marca

Resolvemos  criar uma marca temática, que levasse a essência dos nossos cafés e que através de um conceito de trabalho de forma artesanal, se conectasse melhor com o cliente” que estivesse do outro lado.  Já existe um planejamento de  incluir uma segunda marca em homenagem ao  avô, onde  já foi   registrado o nome, com intuito de criar uma edição de cafés plantados por ele, há mais de 40 anos, e que até os dias de hoje,   os cafezais  continuam produzindo uma bebida maravilhosa”, completa  Anderson de Mesquita.

Simultaneamente  com a nova marca,  Coffee Willians, os proprietários irão lançar o Clube do Café. A estratégia   é de levar até a mesa das famílias  os seus produtos, sem que eles precisem sair de casa. Basta se cadastrarem na plataforma e escolher uma assinatura mensal.

Assim foi feito, conseguiram atingir parte do objetivo que era conversar com o público e apresentar os produtos. Em relação ao mercado ,entraram  em cafeterias, bares, e já nos bastidores, iniciaram um trabalho para identificar potenciais consumidores no mercado, com intuito de evoluir o conceito de imagem, para que a marca dos cafés especiais venha apresentar uma identidade mais artística e profissional.

Hoje estamos focados em desenvolver as vendas diretas, quero muito que as pessoas tenham a chance de provarem os cafés que meus pais produzem e fazem com tanta excelência”, declara Mesquita

 

De Filho à Gestor de Negócios, Inovação & Planejamento Estratégico para Cafés Especiais

Crédito: Sitio Congonhas/Anderson de Mesquita
Crédito: Sitio Congonhas/Anderson de Mesquita

 

Anderson Mesquita conta a sua história

Eu sempre fui da área de tecnologia da informação e nesta época, trabalhava em uma empresa privada em Campinas/SP, não tinha noção nenhuma de café, aliás, achava que café era tudo igual, e tomava café ruim, como muitos brasileiros ainda fazem. Eu era apenas mais uma vítima da educação industrial e da falta de conhecimento do mercado.

Resolvi tirar 30 dias de férias e fui para a roça, na cabeça de uns era loucura, porque férias significa viagem, descanso, diversão, mas naquele momento para mim havia um novo significado, “aprender o que eu ainda não sei, mas que é preciso fazer”, realmente estava determinado em aprender tudo o que eu poderia dentro daquelas férias, e não havia pessoas melhores com quem eu deveria aprender, meus pais.

Até meados de 2016, meus pais plantavam, cultivavam, colhiam, secavam e armazenavam cafés para venderem especialmente para exportadoras, pois até então, para eles “as exportadoras” eram os únicos compradores de cafés que os pequenos  produtores deveriam ir atrás para vender.

Comecei a  participar das negociações  com  os meus  pais, para tentar entender como funcionava o relacionamento com as empresas. Afinal de contas, era o trabalho árdua de 1 ano inteiro de dedicação  na produção de cafés e teria que valer a pena, mas não foi bem assim que aconteceu.

Se existe uma coisa que aprendi nos meus anos de experiência é que, quando te escolhem no meio de muitos é, porque viram valor em você. – foi a partir daí, que  tive a certeza de que, os cafés que eu consumia diariamente e achava tudo igual, caiu por terra, e quando notei que a classificação do café era “Café Especial”, não entendi muita coisa, mas, para mim quando algo é classificado como especial, nada supera.

Como diz a expressão popular “nem tudo são flores”, naquele momento era necessário a escolha de um comprador,  havia um custo alto para cobrir os gastos que haviam sido realizados durante o ano, mas quando notei, percebi um fator contrabalanceado, era o verdadeiro “elas por elas”, a conta não fechava. E quantos produtores ainda continuam vendendo seu tempo, seus sonhos numa balança que nunca será proporcional. Então, a partir deste dia, me comprometi em estudar e aprender tudo que precisava saber sobre Café especial e o que envolve este mercado, desde o princípio, onde tudo começa, da porteira para dentro e as diversas possibilidades de negociação, da porteira para fora.

Após 6 meses, eu já havia consumido muito conteúdo, conhecido pessoas importantes no ramo do café, e ainda continuava conhecendo e abrangendo conhecimento. Mas naquele momento, percebi que tinha condições de mensurar, o que era importante para o pequeno produtor entender, o valor que um café especial tem e como ele deve ser trabalhado.

Foi então, que fiz diversas anotações e criei um projeto, onde apresentava dados principais de cafeicultura brasileira, sobre o perfil de consumidores, tipos de cafés no mercado, custos na cadeia produtiva, mensuração de consumo inteligente, exportação de cafés, consumidores europeus e por aí a fora.

Foi então que, a partir de 2017, meus pais me convidaram para trabalhar com eles, e o desafio agora era – levar história, conhecimento e nossos cafés para fora da porteira, até a mesa das famílias com excelência, e continua sendo até hoje, pois a massa de consumidores do Brasil ainda não conhece o que é um café de verdade e acreditam que café é preto, mas não é.

Durante um longo período trabalhei em paralelo com a empresa privada e o negócio familiar, porém num momento da jornada, foi muito difícil conciliar tantas responsabilidades e entregar com excelência.

Já em 2020, fui contemplado com o desligamento da empresa privada por conta da pandemia e desde então, começamos um trabalho com maior foco e evolução na cadeia produtiva dentro da porteira, começando por consultoria com agrônomo em melhoramento do solo e dos cafezais, monitoramento das variedades, novos planejamentos de infraestrutura, transição de marca, registros, embalagens, terceirizações e outras séries de atividades que está no nosso escopo de trabalho hoje.

Tempos difíceis

Crédito: Sitio Congonhas – Colheita Seletiva
Crédito: Sitio Congonhas – Colheita Seletiva

Hoje, nossa maior dificuldade no campo é encontrar mão de obra para as atividades que são necessárias para os cafés. Do ano de 2020 para cá, a tendência de escassez está se tornando cada dia mais insustentável, e junto a este cenário, os custos de insumos praticados no mercado, estão muito acima das altas que os cafés tiveram como “valorização” vista pelos especialistas e consumidores, durante os mesmos períodos.

No momento em que estamos, o produtor vai precisar avaliar alguns fatores que estão diretamente ligados ao seu sustento, colocando numa balança para entender o que de fato vale a pena para ele, se não bastasse o desequilíbrio econômico, aumento das taxas de juros, nível de inflação elevado, o produtor precisa lidar com o desequilíbrio do nosso ecossistema, enfrentando perdas com geadas, estresse hídrico e especulação de mercado, finaliza Anderson de Mesquita.

Destacamos as melhores regiões  para contar para vocês  histórias maravilhosas sobre os cafés Especiais. Cada produtor deste segmento, tem um dom  , o de encantar através do sabor  conquistado nas xícaras . Ali, naquele pequeno recipiente que seguramos calorosamente  nas mãos, carregam-se anos de estudos, emoção, investimento, amor a natureza e a paixão. Lembrem disto!  Já para os apaixonados , não deixem de viajar por estas terras maravilhosas e degustarem o que temos de melhor.

Colunista Beatriz Negrão

Carreira desenvolvida na área de Comunicação, atuando em empresas no Brasil e no exterior. Publicitária, Jornalista, Pós-Graduada em Marketing pela ESPM com experiência em gestão de clientes e projetos. Como jornalista, escreveu matérias em diversas revistas do setor e proferiu palestras viajando pelo País, abordando o tema Agribussiness.

Certificados: Certificado Ministério Del Lavoro Italiano e internacional de Siena/ Itália.E – Mail: contato2@nomoremag.com