Este é o meu primeiro artigo de 2021. Acabei 2020 falando da amizade com maturidade e quando estava a pensar no que escrever neste artigo, não querendo cair nos lugares comuns, acabei por pensar que aquela máxima de “ano novo, vida nova” não é bem assim.

Na verdade, o ano novo é uma continuidade de um caminho que se vem percorrendo, embora seja uma oportunidade para pararmos e pensarmos um pouco na vida, sem dúvida. Para mim, este é um ano de continuidade e a prova é que estou aqui.

Foi em 2020 que comecei a escrever para a No More e tem sido uma felicidade, uma boa oportunidade de partilhar muito do que penso e de, espero bem, poder inspirar as pessoas a olharem para a longevidade como algo super positivo que a evolução das sociedades nos deu.

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Ano passado falei sobre alguns aspectos da longevidade e da maturidade. Foi uma das grandes conquistas do século passado e que estamos a usufruir neste século. O segredo será, mais e mais, saber tirar o máximo proveito desta longevidade. Foi nesse sentido que ano passado falei do amor em algumas das suas formas. Este mês de Janeiro quero falar-vos do amor parental.

Eu não sou mãe, mas sou filha. Vejo à minha volta muitas mulheres a precisarem de lidar com este tipo de amor, pelo que herdaram das mães e dos pais e pelo que estão a deixar de legado aos filhos. Conforme vamos crescendo na nossa inteligência emocional vamos estando mais atentos ao legado que herdamos e ao que vamos deixar para as próximas gerações.

Nicole Kidman mãe aos 41 anos. Instagram: @nicolekidman

O bom desta maturidade é que hoje temos mais ferramentas para fazer um bom trabalho, algo que os nossos pais não tinham. O mundo da psicologia evoluiu e apareceram novas áreas e novas técnicas, mas também o conhecimento se tornou mais democrático, com a progressiva digitalização da nossa vida.

É interessante notar como a seção de livros de autoajuda cresce nas livrarias, ao mesmo tempo em que se complexifica. Isto quer dizer que deixou se ser uma pequena área, uma estante, para ser toda uma seção que fala desde espiritualidade à alimentação. Só a área do coaching é cada vez maior, em número de títulos, mas também em subcategorias. Na época dos nossos pais não se falava em inteligência emocional e tão pouco o tema da neurociência estava tão explorado.

Rod Stewart e seu filho Aiden em jogo de futebol. Fonte imagem: Pinterest.

Tudo isto para vos dizer que hoje podemos ser melhores pais e mães, estamos mais atentos, temos mais literacia emocional, pelo menos está mais à nossa mão e se as famílias tem menos filhos (o meu pai tinha 10 irmãos), o lado bom é que os pais podem dedicar-se mais a estes filhos.

As mulheres têm hoje filhos mais tarde e muitas já têm o seu primeiro filho aos 50. Algo impensável a umas décadas atrás e para muita gente ainda descabido. Para mim é um “porquê não?”, ou um “quem sabe?”. Devo dizer-vos que é uma porta que não fechei e a par da diferença etária que haveria entre mim e o meu filho, acredito que estou muito mais bem preparada hoje para a maternidade do que estava quando tinha 20 ou 30 anos.

Fonte imagem: Pinterest.

Tudo o que cresci, tudo o que aprendi e de tudo o que me libertei fazem de mim uma melhor mulher hoje que ontem e este é o lado bom dos anos a mais que ganhamos. Temos mais tempo. Mais tempo para criar novas vidas e simultaneamente, mais tempo para recuperar vidas.

Digo isto porque também tenho acompanhado algumas pessoas que estão a passar, ou passaram recentemente, por processos de libertação de traumas do passado fruto de pais e mães mal resolvidos. Se hoje temos as ferramentas e o conhecimento, com coragem e inspiração acredito que é tempo para se recuperar o amor entre pais e filhos.

Com o filho Homer James, Richard Gere, na ocasião com 62 anos, curte jogo da NBA (2012) – Getty Images

A época festiva porque passamos levou-me a pensar nestes temas, porque a família é para mim a base da sociedade e muito do que é a nossa felicidade vem do tipo de família que criamos e na qual nascemos e crescemos.

Mais ainda, o tempo de pandemia porque passamos também me tem levado a pensar no tipo de relações afetivas que estamos a construir com aqueles que nos rodeiam e os pais são marcantes nas nossas vidas.

Isabella Rossellini e a filha Electtra. Fonte imagem: Pinterest.

A minha geração é a geração que cuida de pais e filhos, daí também este ser um tema importante. Pelo menos utilizar este espaço para chamar a atenção para as relações que construímos com ascendentes e descendentes. Se no caso dos nossos pais é bom termos em mente que eles pouco mudam e que os devemos respeitar e acarinhar pelo que são, procurando compreender e moldar o nosso comportamento aos deles, já com os descendentes a questão difere. Ainda vamos a tempo, muito a tempo. Vamos a tempo de emendar a mão e de recuperar e/ou de ganhar um pouco mais, estreitar laços, fortalecer relações e assim contribuir para que as novas gerações sejam mais saudáveis emocionalmente falando.

Cassia Kiss e filhos. Instagram: @cassiakiss

Os pais são, para mim, a base de uma pessoa segura, autoconfiante e feliz. Por isso há que investir. E para aqueles que já não têm pais e não são pais, somos sempre um pouco pais de nós mesmos. Assim, também podemos investir em nós e fazer da nossa criança interna uma criança feliz.

Vamos a isso!! 2020 trouxe-nos uma pandemia inesperada e despertou os olhos do mundo para a longevidade. 2021 parece ser o ano da consagração, o ano em que a longevidade vai-se massificar. Ficamos mais despertos e estamos mais sensibilizados para a importância de sermos felizes e já que a nossa felicidade também passa pela felicidade do outro, pois bem: sejamos pais e filhos mais maduros e conscientes.

Bom ano para todos!!! E bem-vindos a mais uma caminhada pelo mundo da longevidade. Vamos ver onde ela nos leva.

 

Ana João Sepulveda
CEO da 40+ Lab
Expert em Economia da Longevidade e em Envelhecimento Sustentado
Presidente da Associação Age Friendly Portugal, Embaixadora da rede Aging 2.0, Membro do CovenantonDemgraphicChange, da Rede Portuguesa de Ambientes Seguros, Saudáveis e Amigáveis e vogal da direção da Associação Cidadania Social.

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