Eu passo os meus dias a pensar longevidade. Semana e final de semana. Das várias coisas que faço, praticamente 80% têm a ver com isto, até porque sou uma mulher na casa dos 50 e vivo a longevidade porque quando tiver 80, 90 e quem sabe 100, quero continuar a estar bem e ser feliz.

Uma das coisas que ainda me surpreende é ver o quanto ainda coloco barreiras etárias no meu pensamento. Quantas vezes penso “hummm, daqui a pouco já não vai dar” ou “será que ainda dá?”. Isto é terrível.

É tempo de aprender ballet aos 60 anos, no Reino unido

Antes da pandemia, em finais de 2019 fui a uma conferência sobre ciência e longevidade, onde duas grandes investigadoras portuguesas falavam da evolução da ciência e a descoberta de novos caminhos para a longevidade.

É tempo para o amor…

Foi muito interessante perceber que muitas das perguntas que pessoas comuns, como eu, eram à volta do mesmo: até quando é possível manter o mesmo estilo de vida; quando temos de mudar; o que ainda é possível fazer e o que já não é possível fazer.

Tempo para olhar para si mesma e dizer: estou super bem!!

De facto, é interessante esta perspectiva do tempo. Por um lado, a ciência que nos dá mais tempo para tomar uma decisão de mudança e/ou que nos dita o tempo que já perdemos porque já não temos tempo de reverter a situação. Por outro, o tempo que nos colocamos a nós mesmos, quando dizemos que ainda podemos fazer isto ou aquilo, ou que já não temos tempo (leia-se idade) para isso.

Tempo para convidar as vizinhas para uma volta no shopping.

Efetivamente, se queremos investir na longevidade e preparar bem aquela que já chamam de terceira etapa da vida, quanto mais cedo melhor e por isso é que é importante a literacia para a longevidade. Aos 50 ainda dá tempo para muita coisa, mas é preciso ter abertura de espírito, porque parece-me que a mudança pode ser radical, em muitos dos casos.

Tempo para vir a Portugal e experimentar as ondas da Nazaré, famosas pelas super ondas do surf.

Mas se queremos viver bem, estar bem na nossa pele e deixar cair alguns ditames sociais que nos fecham em caixas um pouco castradoras, então digo que, provavelmente, ainda dá muito tempo sim senhora!

Tempo para aprender a cozinhar e a fazer uma super focaccia florida, aos 70…

 

A vantagem de viver bem e de envelhecer com sabedoria, em todos os sentidos, é que muito provavelmente vamos chegar aos 80 muito bem, de corpo e de mente. Nós e os outros que apanharam o mesmo barco da longevidade.

Tempo para assumir o seu corpo com toda a sua sensualidade.

Assim, aos 80 vai dar tempo de amar e de fazer amor. Vai dar tempo de trabalhar no que se gosta e de descobrir coisas novas. Vai dar tempo de mostrar o corpo como ele é, de se assumir e de gostar de si. Aos 80 vai ainda dar tempo para isso e para muito mais.

Tempo para simplesmente andar de mão dada.

Mas o tempo para tudo isto começa agora. Já é tempo de olharmos para nós, de acreditarmos, mesmo quando o mundo lá fora parece querer voltar a tempos idos. Porque num mundo de pessoas que se amam, que são felizes não há tempo para grandes combates.

Colunista:

Ana João Sepulveda
Expert em Economia da Longevidade e em Envelhecimento Sustentado
Presidente da Associação Age Friendly Portugal e Embaixadora da rede Aging 2.0

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