“A única maneira de fazer agricultura no futuro é orgânica. Todas as outras formas de agricultura realmente prejudicam a agricultura no futuro, devido ao seu caráter destrutivo. E podemos produzir o suficiente para todos comerem se reduzirmos o desperdício de alimentos e mudarmos nossos hábitos alimentares, reduzindo muito a carne e os produtos de origem animal” – Johan Rockström – Cientista Sueco e Diretor do Postdam Institute for Climate Impact Research.
O que são orgânicos
São alimentos que em sua produção não utilizam agrotóxicos, transgênicos, ou aditivos, seja no cuidado da planta ou no tratamento contra doenças e pragas. É diferente da produção convencional, não possuem resíduos agroquímicos que são prejudiciais à saúde humana e não contaminam o meio ambiente.
Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), A Lei nº. 10.831, de 23 de dezembro de 2003 define agricultura orgânica de forma mais ampla, como descrito no Art. 1º:
“Art. 1 º Considera-se sistema orgânico de produção agropecuária todo aquele em que se adotam técnicas específicas, mediante a otimização do uso dos recursos naturais e socioeconômicos disponíveis e o respeito à integridade cultural das comunidades rurais, tendo por objetivo a sustentabilidade econômica e ecológica, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da dependência de energia não-renovável, empregando, sempre que possível, métodos culturais, biológicos e mecânicos, em contraposição ao uso de materiais sintéticos, a eliminação do uso de organismos geneticamente modificados e radiações ionizantes, em qualquer fase do processo de produção, processamento, armazenamento, distribuição e comercialização, e a proteção do meio ambiente”.
Nos cultivares e manejo de produtos orgânicos são usados técnicas que respeitam o meio ambiente, como a compostagem, reciclagem de resíduos de origem orgânica, com o intuito de reduzir o uso de recursos naturais não renováveis, e processos que incrementem a fertilidade do solo e sua preservação.
Esclarece também em suas orientações técnicas, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), que o produtor orgânico deve fazer parte do Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos, o que é possível somente se estiver certificado por um dos três mecanismos a seguir:
Certificação por Auditoria: concessão do selo SisOrgé feita por uma certificadora pública ou privada credenciada no Ministério da Agricultura.
Sistema Participativo de Garantia: Para estar legal, um SPG tem que possuir um Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade (Opac) legalmente constituído, que responderá pela emissão do SisOrg.
Controle Social na Venda Direta: A legislação brasileira abriu uma exceção na obrigatoriedade de certificação dos produtos orgânicos para a agricultura familiar. Exige-se, porém, o credenciamento numa organização de controle social cadastrado em órgão fiscalizador oficial. Com isso, “os agricultores familiares passam a fazer parte do Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos.”
Mercado de Orgânicos no Brasil
O Mercado de produtos orgânicos vem crescendo, inclusive durante a crise da pandemia- Covid 19, onde houve aumento da preocupação com a saúde, e a procura por produtos mais saudáveis, buscando uma qualidade de vida melhor. Foi o que a Pesquisa “Panorama do consumo de orgânicos no Brasil“, realizada pela Associação de Promoção dos Orgânicos (Organis), em parceria com a Brain Inteligência Estratégica e com o apoio da Unir Orgânicos em2021, apontou em seus resultados, onde 31% dos entrevistados afirmaram que consumiu no período de um mês pelo menos um produto orgânico.
O Estudo abordou o perfil dos consumidores, critérios de escolhas, comportamento de consumo, tendências para os próximos anos, entre outros tópicos, assim como a análise comparativadas pesquisas anteriores realizadas em 2017 e 2019.
A Pesquisa Organis aponta que o crescimento de 2019 para 2021 foi um salto 2,4 vezes maior que aquele percebido entre 2017 e 2019; e, em comparação ao percentual registrado em 2017 e 2021, houve um aumento significativo de cerca de 106%.
Quando se trata do consumo de orgânicos por região, o Centro-Oeste cresceu de 17%para 39%, um aumento de 129% no período 2019-2021, tornando-se a região com maior percentual de consumidores do Brasil. Em 2019, o Sul era a região que mais consumia orgânicos, com 23%. Esse percentual chegou a 39% em 2021, ou seja, um salto de 69,5%. Em relação aos produtos orgânicos mais consumidos, a pesquisa demonstrou que a hortifruti (frutas, os legumes, as verduras, hortaliça), lidera a categoria, com 75%. Também foram analisados os consumos dos grãos (12%), os cereais (10%), o açúcar (8%) e os biscoitos (6%).
Em referência a Frequência de compra de orgânicos, 34% dos consumidores entrevistados declaram, em 2021, que compram em média 2 vezes por semana. Um aumento de 112% em relação aos 16% de 2019.
Quanto a análise dos locais preferidos para compra, os mais citados foram os supermercadoscom48% e feiras 47%. Nota-se que ocorreuuma queda de 21% e 45%, respectivamente, em relação a 2019. Uma parcela significativa migrou para as lojas que vendem apenas produtos orgânicos. O índice era de 4% em 2019 e pulou para 11% em 2021, um salto de 175%.
Referente ao reconhecimento do produto pelo selo orgânico, a pesquisa Organis indica que estesaltou de 3% em 2019 para 24% em 2021, um aumento de 700%, demosntrando, desta forma a importancia da certificação e sua correta exposição nas embalagens e pontos de venda.
Exportação
Depois de alcançar um significativo salto de 30% em 2020, o mercado brasileiro de produtos orgânicos fechou o balanço de 2021 com notícias animadoras. Mesmo vindo desse crescimento de consumo considerado “fora da curva” em um ano atípico como 2020, o aumento em 2021 chegou a 12%, segundo dados da Organis – Associação de Promoção dos Orgânicos que congrega os diversos tipos de empreendedores do setor.
Dados atualizados comprovam o vigor do segmento, que movimentou cerca de R$ 6,5 bilhões em 2021. O melhor, revela Cobi Cruz, diretor executivo da Organis,é que esse faturamento está ainda bem longe de esgotar as possibilidades do mercado brasileiro dos produtos saudáveis, naturais e amigáveis ao meio ambiente.
“Além do grande horizonte no consumo interno, a exportação é um imenso campo ainda a ser melhor trabalhado”, explica Cobi. Para se ter uma ideia deste potencial e das possibilidades abertas por ele, basta observar que o Brasil ocupa menos de 1% deste robusto mercado global, que movimenta perto de 145 bilhões de dólares por ano.
“É muito pouco para um país com a tradição agrícola e exportadora do Brasil”, explica Ming Liu, diretor institucional da Organis e com grande conhecimento em comércio exterior de orgânicos do Brasil. “Daí a importância vital de uma entidade como a Organis, cujos associados trabalham juntos na promoção do setor em moldes profissionais”, completa Ming. Para ele, a riqueza do clima e da variedade de biomas são um gigantesco ativo brasileiro e que nenhum outro país possui.
Tendências
Declara Cobique para conhecer a visão dos orgânicos e suas perspectivas a respeito de 2022, a Organis realizou estudos, levantamentos, enquetes e diversos encontros virtuais, ouvindo representantes da agricultura, indústria, serviços e comércio de todo o país e chegando a uma expectativa média ponderada de 10% de crescimento para esse ano. “Com o cenário de guerra, inflação global, pandemia, ano eleitoral, fica um pouco mais difícil cravar um número. Mas acredito que o avanço deve ser um pouco maior, entre os 12 e os 15%”, finaliza Cobi Cruz, salientando o expressivo aumento de empreendimentos orgânicos cadastrados no Ministério da Agricultura, que ultrapassou as 25 mil unidades produtivas em 2021, um salto de 11% em relação a 2020.
Fonte: https://organis.org.br/
Produção orgânica mundial
O Instituto de Pesquisa em Agricultura Orgânica (FIBL) publicou suas estatísticas anuais sobre a produção orgânica mundial, em colaboração com a Organics Europeand International (IFOAM) . Os Resultados foram demonstrados durante o congresso, The World of Organic Agriculture 2022, onde aponta que, em 2020, a produção de orgânico registrou um crescimento grande.
O estudo demonstrou que em 2020, a extensão orgânica na União Europeia (UE) foi de 14,9 milhões de hectares e o mercado orgânico registrou um aumento recorde de 15,1%, atingindo € 44,8 bilhões, o que torna o continente europeu o segundo maior mercado, depois dos EUA.
Alemanha, que registrou € 15 bilhões, é o maior mercado seguida pela França com € 12,7 bilhões e a Itália com um valor muito menor de € 3,9 bilhões.
Na UE, mais da metade das terras orgânicas está concentrada em 4 países: França, Espanha, Itália e Alemanha. A França abriga a maior superfície agrícola orgânica (2,5 milhões de hectares) – seguida por Espanha e Itália (com 2,4 e 2,1 milhões de hectares, respectivamente.
O maior número de produtores orgânicos localiza-se na Itália (71.590), seguido pela França (53.255) e a Espanha (44.493).
Os continentes com as maiores áreas agrícolas biológicas são: Oceania com 35,9 milhões de hectares – quase metade das terras agrícolas orgânicas do mundo. Europa com 17,1 milhões de hectares (23%), América Latina com 9,9 milhões de hectares (13,3%), Ásia com 6,1 milhões de hectares (8,2%), América do Norte com 3,7 milhões de hectares (5,0%) e África 2,1 milhões de hectares (2,8%).
Fonte: https://www.organicsnet.com.br,https://www.organicseurope.bio/
Mercado de orgânico na Itália
O Instituto de Serviços para o Mercado Agrícola e Alimentar – ISMEA realizou umapesquisa sobreo “Impacto da inflação no consumo italiano”, com o apoio técnico da Nielsen, que envolveu 3 mil famílias, representantesdo universo italiano. Foi publicada em maio de 2022, onde demonstrou o comportamento dos Italianos perante o consumo de alimentos mediante o cenário inflacionário.
A inflação subiu 6.2% em Abril numa base anual, desacelerando ligeiramente em comparação com o mês anterior. De acordo com estimativas preliminares do Estado, o abrandamento numa base de tendência deve-se principalmente aos preços da energia, cujo crescimento vai de +51% em Março para +42% em Abril. Pelo contrário, o aumento no carrinho de compras é ainda mais acentuado, quando os preços dos produtos alimentares subiram 6% em comparação com Abril do ano passado (em Março, o aumento foi de 5%).
A pesquisa partiu das expectativas sobre a inflação dos entrevistados, de cujas respostas emergem que mais de 60% das pessoas têm um conhecimento realista da situação.
Mas qual será o impacto na compra de alimentos nos próximos meses e quais são as renúncias e estratégias que as famílias adotarão para conter os preços elevados? Este é o tema da pesquisa.
Quanto às causas da espiral inflacionista, quase metade dos inquiridos identifica as principais razões para o aumento dos preços das matérias-primas e dos custos da energia, juntamente com a eclosão do conflito na Ucrânia, enquanto apenas 10% associam o crescimento da inflação às consequências da pandemia Covid-19, que parece um evento agora arquivado ou não responsável pelo que acontece hoje.
Sobre as renúncias que podem ser necessárias para enfrentar a perda de poder de compra, 1 italiano em cada 5 está pronto para sacrificar viagens, 16% para reduzir os custos de vestuário e 12% para consumo fora de casa e entretenimento.
Em relação às despesas alimentares, quase todas as famílias italianas temem um aumento dos preços das necessidades básicas, enquanto apenas cerca de metade da amostra manifesta preocupação com a disponibilidade dos produtos que normalmente compram.
O produto “marca” permanece importante na escolha da massa (29%), congelada (27%), passada (24%), enquanto para a carne, frutas, legumes, ovos, é a origem das matérias-primaso primeiro condutor de escolhas.
.Se falarmos da qualidade organoléptica do produto, no entanto, em primeiro lugar encontramos pão com 44%, vinho com 37%, queijo com 37% e fruta sazonal com 31%.
A compra será programada com a lista para evitar compras desnecessárias (38% dos entrevistados), compra sem produtos Premium (27%), a compra de marcas terá lugar apenas se em promoção (22%), vamos nos concentrar nas marcas de distribuidores (14%) e 9% dos entrevistados também reduzirão as quantidades em favor da qualidade.
A propensão para economizar não afetará a atenção do italiano para a qualidade do que traz para a mesa: 70% dos entrevistados nunca iriam desistir do produto 100% italiano, enquanto quase 1 em 2 não faria compra sem os produtos com carimbo DOP/ IGP, de agricultura sustentável ou de marca biológico-orgânica.
Entre as reações aos atuais desafios impostos pela inflação, 68% das famílias italianas disseram que evitariam o desperdício de alimentos, enquanto 47% compararão os preços de forma mais meticulosa. 9% dos entrevistados disseram que comprariam menos comida para continuar comprando itens de alta qualidade. Por outro lado, apenas 1% dos entrevistados disse que comprariam alimentos de qualidade inferior para continuar comprando a mesma quantidade. Fonte: https://www.ismea.it/
O consumidor brasileiro passou por transformações comportamentais nas últimas décadas. A conscientização trouxe a mudança de hábito alimentar e preocupação com o planeta. Surge um novo consumidor. Estes preferem produtos que sejam sustentáveis, embalagens recicláveis, produção de menor lixo, não poluir a natureza, entre outras atitudes. Inseriram no seu dia a dia uma nova gestão alimentar e sustentável, onde a alimentação orgânica e a sustentabilidade caminham juntas.O Brasilé o país com a maior biodiversidade do mundo. Temos tudo para implementar, cada vez mais o sistema de agricultura orgânica e despertar, desta forma, o maior consumo de produtos orgânicos e uma alimentação saudável no nosso cotidiano. Há muito que se fazer, mas tudo indica que chegaremos lá.
Colunista Beatriz Negrão
Carreira desenvolvida na área de Comunicação, atuando em empresas no Brasil e no exterior. Publicitária, Jornalista, Pós-Graduada em Marketing pela ESPM com experiência em gestão de clientes e projetos. Como jornalista, escreveu matérias em diversas revistas do setor e proferiu palestras viajando pelo País, abordando o tema Agribussiness.
Certificados: certificado Ministério Del Lavoro Italiano e internacional de Siena/ Itália.
E – Mail: contato2@nomoremag.com