Um pouco antes de todo o mundo ser apanhado pela pandemia, tive a oportunidade de estar numa conferência, em Lisboa, onde se falava de saúde e longevidade. A primeira parte da conferência era com 2 cientistas portuguesas que falaram sobre as principais áreas da saúde que colocam em risco a nossa longevidade, como as demências, por exemplo.

Interessante foi a catadupa de perguntas que se seguiram, de uma audiência que tipicamente não faz muitas perguntas. Mas foi uma verdadeira avalanche de perguntas que começavam quase todas da mesma forma: até quando.

Pinterest.

Até quando quer dizer qual a minha margem de manobra, qual a idade limite, qual o momento da minha vida em que já não há volta. Ou seja, as pessoas ficaram de tal forma preocupadas com a perspectiva de viverem mais do que esperavam e viverem sem saúde que precisavam de perceber o que fazer e quando.

Curioso, porque a nossa saúde começa a ser moldada já no ventre das nossas mães e segue, com maior ou menos grau de controle, porque parte da saúde que temos é definida pelo local onde vivemos, pelas condições a que temos acesso, enfim, uma complexidade de fatores. Mas a mentalidade predominante é que somos “donos” da nossa saúde, e não somos.

@okdong_fit influencers Sul Coreanos.

Posto isto, quanto mais estudo e quanto mais observo é claro para mim que nestas gerações de pessoas adultas que andam pelos 40/45 anos de idade, à medida que percebemos que vivemos mais tempo cresce esta ansiedade para perceber de que forma conseguimos controlar, tomar as rédeas da nossa saúde e com isso, do nosso futuro.

Embora isso não seja 100% possível, a verdade é que não deixa de ser uma questão muito importante que todos nós nos coloquemos, porque se bem ponderada tende a levar à mudança. Agora que sei que tenho um risco, que sei até quando tenho (teoricamente) uma margem de manobra, o que vou fazer?

Kang Changdong and Kim Sunok, têm 57 e 62 anos, mas nem se nota!

Isto leva-nos a um segundo momento que é também interessante: fazer algo por mim deve implicar em (1) autoconhecimento e (2) acesso a ferramentas que me permitam efetivamente mudar a realidade e assim, mudar o futuro.

Isto é interessante porque nos obriga a olhar para nós mesmo e a fazer algo. Falo tanto numa perspectiva de introspeção, mas também numa perspetiva de conhecimento do nosso corpo, de como ele funciona e como reage àquilo que fazemos, seja em termos de atividade física, forma de pensar, alimentação, etc.

@ginalapertosa

Outro dia falava com dois médicos com quem trabalho e discutíamos exatamente isto, o “até quando” e a capacidade que as pessoas têm de efetivamente conhecer o seu corpo (corpo e mente integrados) de uma forma que seja pormenorizada o suficiente para atuar sobre a saúde, tanto numa lógica de tratar o que já está doente como numa lógica de mitigar ou prevenir o que pode vir.

A razão por que escrevo sobre este tema tem a ver com uma tomada de consciência que tive outro dia. Percebi que daqui a 4 anos vou ter 60. Imaginem!! 60 anos. 60 anos de uma pessoa que é hoje uma profissional da longevidade e que tem descurado um pouco a sua saúde. Então pensei o que isto quereria dizer de mim.

@coco__mademoiselle__style

Será que no dia da minha morte vou querer que digam: olha ela, trabalhou tanto para a longevidade dos outros, mas morreu com alzheimer, diabetes, obesidade e teve câncer. Estou a dramatizar, mas a realidade é que se não fizer nada por mim, hoje, agora, posso bem morrer com algumas das coisas que enunciei acima. Pergunta: é isso que eu quero?

Como costumo partilhar aqui algumas das minhas introspeções, não queria deixar de o fazer desta vez, porque me parece mesmo importante que o máximo de pessoas possa pensar também sobre isso.

Como me sinto? Como quero viver? Se continuar assim, qual é o meu futuro provável? Até quando posso fazer algo que tenha efetivamente impacto em mim e no meu futuro? Perguntas que gostava promovessem também uma mudança.

Eu estou a fazer isso e começo a ter resultados. Uma mudança que, no meu caso, veio de dentro para fora, mas que em outras pessoas pode ser ao contrário. O importante é percebermos se estamos bem ou não. Se não, o que é vital para nós mudar?

Duas mulheres que mudaram radicalmente a sua vida, uma aos 43 e a outra aos 56 anos de idade.

Não quero chegar ao encontro com Deus e pedir-lhE (o “E” maiúsculo não é erro de datilografia, é assim mesmo) que me deixe voltar, que me dê uma segunda chance para ser feliz, porque desperdicei esta, até porque acredito que há uma única oportunidade, não creio em segundas oportunidades e em novas voltas à Terra. Por isso resolvi agir e mudar em áreas que eram quase intocáveis para mim.

Às vezes assusta, mas na maioria do tempo compensa. Acredito que mudar, para melhor, compensa sempre.

Colunista:

Ana João Sepulveda
Expert em Economia da Longevidade e em Envelhecimento Sustentado
Presidente da Associação Age Friendly Portugal e Embaixadora da rede Aging 2.0

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