Semana passada realizei um dos meus objetivos da minha “bucketlist” (lista de desejos) – encontrei-me com o Alexandre Kalache. Para quem não sabe ele é considerado uma referência mundial e o pai do conceito de cidades amigas dos idosos e do conceito de envelhecimento ativo e saudável. Ou seja, alguém que uma pessoa como eu precisa, no mínimo, de conhecer. Ele esteve numa conferência no Porto e falou muito sobre o dividendo da longevidade, ou seja, aquilo de bom que a longevidade nos trás.
Eu já tenho falado sobre isso várias vezes, nesta coluna, mas hoje gostava de falar mais em detalhe, porque se tivermos bem a noção do que significa, é transformador porque impacta na nossa visão da vida, do tempo de vida e do que ainda se pode fazer com isso. É um bónus, a longevidade, ou deve ser. Assim saibamos lidar com ele.
Claro que é complexo, claro que transformar este tempo extra (título do livro da Camilla Cavendish) num tempo positivo infelizmente não é para todos. Deveria ser e uma das coisas que gosto de fazer com o meu trabalho é motivar, influenciar e transformar, para que isso seja cada vez mais para todos. Mas não é por aí que quero ir.
Quero mesmo partilhar convosco esta percepção de que temos tempo, a mais ou não depende da nossa ambição. Eu tenho muito que quero fazer e por isso acho sempre que me falta tempo, e agora o tempo torna-se cada vez mais um bem precioso.
Percebemos que temos mais tempo então há que planear, há que buscar conhecimento, autoconhecimento, conhecimento sobre o que influi na gestão deste dividendo para que não se transforme num déficit, em algo que de positivo se torna negativo.
Outro dia umas senhoras da minha paróquia vieram me pedir que organizasse uma palestra sobre o tempo extra, sobre a longevidade e sobre o envelhecimento. Rondam os 70 anos de idade e querem saber sobre longevidade para perceber como envelhecer. Pode dar para rir, mas a mim tocou-me profundamente.
Primeiro porque me fez pensar no impacto destes artigos que escrevo e no impacto do meu trabalho. Depois, e principalmente, porque torna evidente uma coisa: nunca é tarde. E cada vez mais esta percepção de que nunca é tarde é cada vez mais verdade.
A longevidade muda a forma como vemos a idade cronológica, desfoca-nos daí para nos focar em nós mesmos, naquilo que sabemos de nós, no nosso autoconhecimento.
Falo de 3 senhoras todas elas viúvas, que têm uma vida bastante preenchida de significado e para mim esse é um dos segredos deste dividendo da longevidade. São mulheres muito integradas na sociedade, na comunidade da paróquia e que convivem com pessoas de todas as gerações. Fazem novas amizades, estão inteiradas do que se passa à sua volta e com gosto pela vida. Este é o dividendo da longevidade. Algo que a minha geração tem para aprender com as mais velhas.
Ainda outro dia estive numa feira da longevidade, aqui em Lisboa. Foi muito bonito ver o que fazem pessoas engajadas. Duas mulheres com visão montaram a feira e o público, maioritariamente feminino, composto de mães, avós e filhas. Mulheres mais velhas que mobilizam e motivam as mais novas. Depois, mulheres que levam homens.
Esta é a sociedade em que gosto de viver, quando vejo o poder da mobilização, a capacidade que a sociedade tem de dar espaço a que pessoas com visão contruam uma nova realidade. Aqui também vejo o que há de positivo neste tempo extra, neste dividendo da longevidade.
Então aqui fica a proposta: vamos pensar no que queremos fazer com o nosso tempo extra, de que forma queremos viver, como podemos converter este tempo em benefício e com quem.
Colunista:
Ana João Sepulveda
Expert em Economia da Longevidade e em Envelhecimento Sustentado
Presidente da Associação Age Friendly Portugal e Embaixadora da rede Aging 2.0
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