Em tempos onde a tecnologia tem moldado a vida do ser humano de maneira profunda para o bem e para o mal, surge um verdadeiro paradoxo na psiquê humana: o estreitamento de relações virtuais e a desconexão com o mundo real. Ter acesso a informação à apenas um toque dos dedos, encurtar distâncias, conhecer outras culturas, pessoas, rodar o mundo por uma tela, inicialmente pareceu um oásis, até nos depararmos com o seu lado escuro.

O ser humano nunca esteve tão solitário, o que é resultado da substituição das interações pessoais pelas relações virtuais, deixando muitos desconectados da vivência real. Somado a isso, a pressão constante para se manter presente no mundo virtual, tem levado muitas pessoas à ansiedade, à depressão e até mesmo ao suicídio. Na busca por ter uma vida que represente a perfeição do online e na ânsia de compartilhar o seu cotidiano, o ser humano vem se submetendo a críticas, e opiniões que podem acabar com o seu emocional.

No ambiente tóxico que se tornou a internet, é preciso ter equilíbrio. Neste mês por exemplo, uma famosa blogueira de emagrecimento, com mais de 600 mil seguidores deu fim a própria vida, após meses de sofrimento com questões pessoais e haters sobre seu problema.

Drika

Adriana Thyssen, 49 anos, ficou conhecida ao se dedicar aos cuidados com a saúde e melhor qualidade de vida. Em 2013, ela emagreceu 35 kg e incentivava as seguidoras a manterem hábitos saudáveis. Após descobrir uma traição e sofrer com os haters, Drika como era conhecida, se suicidou no último dia 17.

Diferente do final de Drika, diversos blogueiros e famosos que sofrem com o ataque nas redes sociais, já lançaram mão de algumas estratégias para enfrentar esse tipo de situação. É o caso da cantora Luísa Sonza que com frequência desativa seu perfil nas redes para amenizar os prejuízos emocionais causados pelos haters. No final do ano passado, após o lançamento de um novo single, ela desabafou na internet.

Luísa também contou durante uma entrevista ao canal GNT que os ataques virtuais surgiram quando ela tinha 16 anos e postava vídeos no YouTube – e foi piorando com o passar do tempo.“Não sabia mais o que fazer, minha mente não aguentava mais. Terapia, remédios, não faziam efeito. Queria morrer. Quando começaram a liberar as gravações dos programas de TV na pandemia, eu ia para minha primeira viagem. Entrei no avião e as pessoas me xingavam! Aluguei um barco no meio do mar e as pessoas me xingavam. Passavam de jet ski me xingando”, contou.

Em 2019, durante um momento depressivo ela voltou a desabafar. “Eu menti para vocês que não tenho depressão, menti que está tudo bem. Não está, faz tempo. E eu estou cansada de fingir ser forte para vocês. Eu não sou tão forte assim e isso me frustra muito”.

Dois anos depois ela anunciou um novo afastamento das redes sociais por conta dos comentários agressivos. “Gente, pelo amor de Deus! Pelo amor de Deus! Parem com essa história! Ninguém aguenta mais, gente. Ninguém aguenta mais. Pelo amor de Deus! Pelo amor de Deus, parem com isso!”, dizia. Posteriormente, o material foi apagado do Instagram, fecharam os comentários da conta e ela se afastou das redes sociais.E nessa mesma ocasião, Luísa recebeu ameaças de morte, foi quando ela gravou um vídeo e pediu chorando que parassem com os ataques.

Dra. Dayla Abss – Médica Psiquiatra

De acordo com a médica psiquiatra, Dayla Abss, do CAPS TM de São José dos Pinhais, no Paraná, no contexto atual as pessoas estão sendo menos ouvidas e estão cada vez mais sedentas de falar, e para isso usam as redes sociais, esperando validação e reconhecimento. “Neste cenário o cyberbullying tem crescido, com algumas pessoas se sentido autorizadas a extrapolar a liberdade de expressão nas redes, gerando vítimas por vezes fatais. Este mês infelizmente tivemos mais uma vítima do suicídio, a blogueira Adryana Thyssen do Blog da Drika, que nos últimos tempos sofreu vários ataques diários, mesmo implorando por um basta. Há de se ter conscientização e responsabilidade emocional sobre o tema, saúde mental não é frescura, é algo muito sério e tem custado vidas”, explica.

Segundo a médica é possível prevenir esse tipo de ação através de cuidados pessoais tais como atenção àsaúde mental, a prática de exercícios físicos, alimentação equilibrada, sono adequado, tratamento de transtornos mentais e o fortalecimento dos vínculos pessoais.Dayla também recomenda buscar ajuda e orientações em lugares especializados como UBS, CAPs e ambulatórios de psiquiatria/psicologia.

 “Toda morte por suicídio é um acontecimento trágico, que implica umimpacto emocional considerável para as pessoas próximas ao falecido,as quais não param de se questionar sobre o ocorrido e sobre o quepoderiam ter feito para evitar a morte”(2023, Crise suicida: avaliação emanejo/Neury José Botega)

A morte pode ser evitável

  • Segundo a OMS, cerca de 703 mil pessoas tiram a vida anualmente
  • Ocorre um suicídio a cada minuto em algum lugar no planeta
  • Tira mais vidas que a malária, HIV/Aids, Câncer de mama, guerras ouhomicídio
  • As tentativas de suicídio são 10 a 20 vezes mais frequentes que osuicídio
  • 90 % das pessoas que cometem suicídio tinham transtorno mental(Vidal, Gontijo, & Lima, 2013) ou
  • Depressão, transtorno bipolar, dependência de substâncias, transtorno de personalidade, esquizofrenia e anorexia.

Atenção para os riscos para o suicídio

  • Transtornos mentais (depressão, T. de personalidade, abuso e dependênciade álcool e drogas)
  • Histórico de traumas, abusos
  • Pouco suporte familiar
  • Vulnerabilidade social
  • Vínculos frágeis
  • Tentativa de suicídio prévia
  • Doenças físicas estigmatizantes e incapacitantes
  • Perda afetiva recente
  • História familiar de suicídio

Mitos

  • “Tentativa de suicídio é para chamar a atenção”
  • “Todos que pensam em suicídio, querem mesmo morrer”
  • Falar sobre o suicídio aumenta as chances da pessoa cometersuicídio”
  • “Suicídio nunca é planejado”
  • “Suicídio é um ato de covardia/coragem”
  • “Quem quer morrer não fala nada antes”
  • “Suicídio é coisa de rico”

Não julgue, ofereça ajuda!

Colunista:

Colunista Raquel Pereira 

É jornalista, engenheira agrônoma, marketeira e já foi consultora de moda. Uma mulher versátil! Além do filho, Olavo, é apaixonada por saúde, beleza, cremes, estética, terapias, enfim, por tudo que deixa as pessoas mais bonitas, saudáveis e felizes!

@raqsonline