Quantas vezes achamos que depois de uma relação estamos preparadas, ou preparados, para voltar a amar? Então vamos para uma nova relação e temos mais do mesmo, ou fechamo-nos e não damos espaço a que outro entre na nossa vida. Achamos que há falta de homens no mundo, ou que as mulheres são muito seletivas e que um homem mais maduro não tem espaço.
Partilho convosco, como procuro fazer sempre, uma experiência pessoal que me levou a perceber que até então não estava preparada para voltar a amar, ou mesmo para amar pela primeira vez. Explico: se acho que já amei? Sim. Se hoje, depois do que vivi, acho que no passado amei? Não propriamente. Sei que isso dava direito a uma boa discussão filosófica, mas não vou entrar por aí.
Outro dia fui sair com o rapaz, um pouco mais novo que eu e a forma como decorreu a nossa noite foi realmente transformadora. Nessa noite percebi que o que tinha vivido até hoje não era bem a forma de amar que eu quero viver de agora em diante. Se estou apaixonada pelo rapaz? Não. Se aquela noite marcou a minha vida? Sem dúvida que sim.
É que de repente dei-me conta que ao longo de todos estes anos eu nunca dei muito espaço às pessoas para realmente me conhecerem, não me abria, com medo, claro. O único local onde eu era capaz de ser eu mesma, onde me sentia profundamente segura era nos momentos de prática das minhas artes marciais.
Naquele ambiente eu sentia-me livre, porque não estava preocupada com o que os outros achavam de mim, sentia-me segura, só assim consegui praticar artes tão violentas, pelo prazer de me desafiar. Sentia-me e sinto-me segura com os meus colegas e principalmente com os meus instrutores. Coincidência ou não, tem sido nesse ambiente que eu tenho tido agradáveis surpresas com o sexo oposto.
Pois bem, esse rapaz é um daqueles com quem treino. E como cheguei à conclusão, não é por acaso. Porque ali sou quem sou e permito, de forma inconsciente, que as pessoas me conheçam como sou e não como aparento ser.
Para os que não me conhecem, eu estou com excesso de peso. Aliás esse sempre foi um problema para mim, mesmo quando era magra. Enfim, isso levava-me a toda uma outra história.
Voltando àquela noite. Dei por mim a ser vista e ouvida. Em certo momento ele fez um pequeno comentário, positivo, que me deixou bem relaxada, e foi a prova que estava ali, presente.
Foi nesse momento que baixei a guarda e deixei que ele falasse, que se mostrasse para que eu pudesse ver, e que também me permiti baixar um pouco a guarda. E tive uma agradável surpresa.
Do ponto de vista profissional não me parece ser nada daquilo que eu idealizava. Mas será que eu quero ter a meu lado um CEO ou um homem que seja meu verdadeiro companheiro?
Será que quero uma conta bancária ou quero uma pessoa que me ae e que se deixe amar, que seja o meu confidente e melhor amigo, e eu dele? Percebi que andava totalmente desfocada. Claro que o embrulho conta, mas conta mais o interior do pacote.
O embrulho até pode vir a ser um ceo com uma conta bem recheada, ou o ceo pode ser um au homem, super focado no trabalho, ausente, e que fica comigo no intervalo da sua agenda.
Digo-vos, foi tão bom, tão transformador que percebi que estava a amar mal. Não vou dizer que amava da forma errada, porque amava como sabia, amava da melhor forma que sabia. Mas não me deixava mostrar. O muro que criei à minha volta não permitia nem que as minhas amigas entrassem muito fundo.
Hoje estou diferente. Quanto ao rapaz, nunca mais nos vimos e já passaram 3 semanas, ou um pouco mais, não sei. Quanto a mim, agora estou a buscar amar-me, permitir que os outros me conheçam mais e assim eu quero estar preparada para amar de verdade, para ter a relação a dois que sempre desejei. Wish me luck!!
Colunista:
Ana João Sepulveda
Expert em Economia da Longevidade e em Envelhecimento Sustentado
Presidente da Associação Age Friendly Portugal e Embaixadora da rede Aging 2.0
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