O cinema sempre foi sinônimo de reinvenção. Das telas gigantes ao streaming, das salas fechadas aos espaços ao ar livre, a sétima arte nunca se limitou a um único formato. Agora, impulsionado pela urgência climática e pelo avanço das energias renováveis, o cinema se move com a luz do sol.

Em fevereiro, o Brasil sedia um evento inédito que marcará essa revolução: o 1º Encontro Internacional de Cinemas Movidos a Energia Solar. Pela primeira vez, projetos de cinema solar de todos os cinco continentes se reúnem para debater o impacto da cultura na sustentabilidade global.

Cinesolar em Fartura – vilarejo sem luz elétrica e com o céu estrelado – Crédito: Divulgação

Acabou de acontecer em São Paulo, no dia 6, e vai acontecer nos dias 8, 9, 10 e 11 no Rio Grande do Norte. Durante o encontro, haverá exibições de curtas-metragens, debates sobre meio ambiente, cinema e sustentabilidade, além de reuniões executivas com diretores de projetos de cinema solar. A escolha do Brasil como sede está diretamente ligada à COP 30, que também será realizada no país e reforça a importância das discussões sobre as mudanças climáticas.

Maureen Prins – fundadora do primeiro cinema solar do mundo, na Holanda – Crédito:Divulgação

“Nós pensávamos sobre esse encontro há muitos anos, mas adiamos nossos planos devido à pandemia da Covid. Com a COP 30 programada para acontecer no Brasil este ano, decidimos que o país seria o local ideal para o primeiro encontro”, diz aholandesa Maureen Prins, fundadora do Solar World Cinema e uma dasCoordenadora do evento. 

Cinema Itinerante e Sustentável

Bela cena de evento do Cinesolar. Crédito:Divulgação

O cinema solar tem um propósito claro: levar a magia do audiovisual a comunidades onde salas de cinema convencionais não chegam. Equipados com painéis solares e sistemas conversores de energia, os projetos exibem filmes sem depender da rede elétrica.

Na maioria dos países o projeto funciona a partir de vans equipadas com placas solares que possibilitam, através de um sistema conversor de energia solar para elétrica, a exibição de filmes e apresentações artísticas. No interior dos veículos, há assentos para o público e telão, que são levados para fora para a montagem das “salas de cinema”.

No Brasil existe o Cinesolar, primeiro cinema itinerante movido a energia solar do país. Em 11 anos de atuação, as vans do projeto já percorreram mais de 350 mil quilômetros, realizou 2.730 sessões de cinema, impactou cerca de 400 mil pessoas e exibiu 290 filmes brasileiros em localidades que raramente têm acesso a produções audiovisuais.

Durante os eventos as vans se tornam espécies de museus-escolas. Crédito: Lucas Rosendo

Dentro da van, infográficos e monitores mostram como funciona o carro e são passadas informações sobre os princípios básicos da energia solar (por exemplo: como a energia solar se transforma em energia elétrica). Além disso, são mostrados produtos de sustentabilidade e tecnologias renováveis, com aplicações práticas no dia a dia, como um instigante relógio de batatas.

No Nepal o projeto utiliza burros para o transporte do cinema solar-. Crédito: Divulgação

O conceito se espalhou pelo mundo, com formatos adaptáveis às condições de cada região. No Nepal, a estrutura é levada através de burros. Na Austrália, um trailer transformado em cinema móvel percorre grandes distâncias para conectar pessoas à arte.

No Saara Ocidental um veículo 4×4 encara as dunas para levar cultura às comunidades nômades e na África do Sul, além do trailer, há mini kits de cinema solar, que podem ser transportados em malas.

O peruano Alba é um dos destaques do Encontro. Crédito: Divulgação

Os filmes exibidos sempre trabalham questões ligadas à sustentabilidade com foco em três eixos: social, econômico e ambiental. Além das sessões e das oficinas de cinema, muitas vezes a iniciativa ainda promove música orgânica e ecografite para crianças e adolescentes. Essas atividades propõem a reciclagem de materiais para a confecção de instrumentos musicais e o preparo de pigmentos naturais, como argila e urucum, nas pinturas produzidas pelos participantes.

Cynthia Alario – idealizadora e coordenadora do Cinesolar e coordenadora do Encontro Internacional. Crédito: Divulgação

“Após onze anos de trabalho extensivo de cinema itinerante movido a energia solar, com objetivo de democratizar o cinema, levando-o para as partes mais remotas do País, estamos reunindo nossos parceiros apaixonados e aspirantes para trocar conhecimento, apresentar a diversidade de iniciativas de cinema solar e despertar ideias para estender ainda mais a rede pelo mundo”, conta Cynthia Alario, idealizadora do Cinesolar.

De acordo comAbhimanyu Humagain, diretor do Cinema Solar Nepal, o projeto foi criado em 2023 com o objetivo de levar cinema a escolas e comunidades. Já impactou seis mil estudantes do país. “Estamos ansiosos pelo encontro no Brasil, dias 10 e 11. É importante trocar ideias, aprender com outras iniciativas e explorar colaborações para aumentar globalmente o impacto dos projetos de cinemas movidos a energia solar”, revela.

Os Países e Projetos participantes do Encontro são:

  • África do Sul: Sunshine Cinema
  • Austrália: Solar Cinema Northern Territory
  • Brasil: Cinesolar
  • Chile:Chile: Plataforma Visual
  • Croácia: Solar Cinema Adria
  • Espanha/Maiorca: Cineciutat
  • Estados Unidos: Arizona Loft Solar Cinema
  • Grécia: Solar Cinema Peloponnisos
  • Holanda: Solar World Cinema
  • México: Cine Movil Toto;
  • Saara Ocidental: Solar Cinema Western
  • Nepal: Solar Cinema Nepal

Personalidades Presentes no Evento

Maureen Prins – Fundadora e diretora executiva do Solar World Cinema, um dos projetos pioneiros de cinema solar no mundo. Cineasta holandesa formada pela Sheffield Hallam University, Maureen é especialista em curadoria e difusão do cinema sustentável.

Maartje Piersma – Diretora executiva do Solar World Cinema, com formação em Mídia e Cultura pela Universidade de Amsterdã. Trabalhou no International Documentary Film Festival Amsterdam (IDFA) e em diversos festivais europeus.

 Stien Meesters – Produtora cultural e diretora do Solar World Cinema, com vasta experiência na organização de festivais de cinema como CINEKID e IFFR.

 Cynthia Alario – Fundadora do Cinesolar, cineasta e ativista ambiental. Criadora da Brazucah Produções, é especialista na difusão do cinema nacional e em projetos de sustentabilidade.

Mary Land Brito – Secretária de Estado da Cultura do Rio Grande do Norte, professora e cineasta. Coordenou projetos audiovisuais como o Cinemateca Potiguar e o Cine Poty. 

Muito Além do Cinema: um movimento cultural e ambiental

Evento do Cinesolar no Parque Nabuco – em São Paulo.  Crédito: ThainaTibana

O cinema solar não se limita à exibição de filmes. Ele promove ações educativas como, no caso do Cinesolar, oficinas de música orgânica, ecografite e reciclagem, incentivando práticas sustentáveis entre crianças e adolescentes. O projeto também compensa 55 toneladas de CO₂, em parceria com a Ecooar, através do plantio de árvores e preservação de áreas florestais.

Evento do Cinesolar no Maranhão. Crédito:  Lucas Rosendo

“Decidimos fazer o evento no Brasil, no ano da COP 30, porque é fundamental fomentar a discussão no viés das artes sobre o impacto das mudanças climáticas no mundo. Precisamos mostrar que este não é um problema de um único país, mas do planeta inteiro”, afirma Cynthia Alario.

Um Encontro para Projetar o Futuro

Cenário espetacular com o projeto no Chile –Crédito: Divulgação

O 1º Encontro Internacional de Cinemas Movidos a Energia Solar não é apenas um festival ou um simpósio, mas um convite para repensarmos o futuro do cinema e da sustentabilidade. Num momento em que lideranças ao redor do mundo tentam barrar políticas ambientais, eventos como esse reforçam a urgência do debate climático e cultural.

Um Cinema Que Ilumina Caminhos

No Nepal, com seis mil estudantes envolvidos, projeto aprimora a aprendizagem sustentável. Crédito: Divulgação

Mais que exibir filmes, o Encontro é sobre construir pontes, conectar realidades e lembrar que cultura e sustentabilidade não são conceitos dissociáveis. mas parte da mesma equação.

De vilarejos no Nepal a comunidades ribeirinhas no Brasil, de desertos africanos a praças na Europa, esses projetos mostram que a arte encontra seu espaço onde houver vontade. Não há barreiras quando há propósito.

Solar Cinema -Evento do projeto pioneiro na Holanda – Crédito: Divulgação

O cinema solar não apenas transforma espaços; ele transforma pessoas. Leva histórias onde antes só havia silêncio; desperta reflexões onde faltavam oportunidades; cria laços entre culturas tão distantes, mas tão parecidas na necessidade de preservar o que temos de mais valioso: nosso planeta.

No fim das contas, o que se projeta na tela é um reflexo do que queremos para o futuro. E se depender dessas iniciativas, o que vem pela frente é um cinema mais acessível, mais sustentável e, sobretudo, mais humano. Porque enquanto houver sol, haverá histórias para contar!

Beatriz Negrão
Editora Sucursal São Paulo e Colunista
Carreira desenvolvida na área de Comunicação, atuando em empresas no Brasil e no exterior por mais de 10 anos. Publicitária, Jornalista, Pós-Graduada em Marketing pela ESPM com experiência em gestão de clientes e projetos. Como jornalista, escreveu matérias em diversas revistas do setor e proferiu palestras viajando pelo País, abordando o tema Agribusiness.
Certificados: certificado Ministério Del Lavoro Italiano e internacional de Siena/ Itália.
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