Um olhar que nasceu na infância

Em um cenário no qual a sofisticação ainda é, muitas vezes, dissociada da sustentabilidade, a artista Raquel de Queiroz constrói uma narrativa singular. Unindo a riqueza da biodiversidade brasileira ao design autoral, ela transforma minerais, sementes, madeiras e metais reciclados em joias que carregam histórias e propósitos. Seu trabalho destaca-se pela autenticidade e pela profunda conexão com a natureza, trazendo à tona um luxo que é, antes de tudo, consciente.

A paixão pelas pedras começou cedo. Raquel guarda na memória as tardes em que, junto da mãe, recolhia pedras e as pintava, fascinada pelas formas que encontrava.

Outra lembrança que guarda com carinho da mãe remete aos tempos em que estavam no interior de São Paulo. Um senhor — provavelmente um ourives — costumava visitá-las para oferecer joias. Era algo bastante comum na época, e ela se encantava ao observar aquelas pedras e gemas tão belas e reluzentes.

“Para mim, não existe pedra ruim; sempre há algo a ser feito”, conta. O amor pela arte, natural desde a infância, refletir-se-ia anos mais tarde em suas criações, hoje reconhecidas como joalheria artística.

Quem é Raquel de Queiroz

Crédito: Acervo Raquel de Queiroz.

Raquel de Queiroz é designer de joias autorais, artista plástica e pesquisadora de materiais sustentáveis. Formada em desenho de joias pelo Senac, iniciou sua trajetória artística trabalhando com vidro e cerâmica antes de se dedicar à joalheria. Suas criações unem a sofisticação dos metais nobres à riqueza da biodiversidade brasileira, com forte compromisso com práticas sustentáveis e responsabilidade ambiental. Participou de importantes feiras e exposições no Brasil e no exterior, incluindo eventos na Espanha, Alemanha e Portugal.

É reconhecida por transformar matérias-primas naturais em peças que contam histórias, celebrando a beleza consciente e o design responsável.

Trajetória e reconhecimento internacional

Crédito: Acervo Raquel de Queiroz. – Com presença em eventos internacionais como o IFEMA Madrid, Raquel projeta o design sustentável brasileiro ao mundo.

Seu currículo é uma prova de sua trajetória sólida e internacional. Além de formada em desenho de joias pelo Senac, atuou como artista plástica, criando peças em vidro e cerâmica. Participou de exposições em museus na Espanha, do evento Madridjoya, do projeto Myaló sobre saúde mental, e desfilou no Momad, em parceria com estilistas. No Brasil, integra o Mercado Eco e o Brasil Eco Fashion Week, além de ter exposto em feiras internacionais como PortoJoia (Portugal), Inhorgenta (Munique) e Premium (Berlim).

A matéria-prima como ponto de partida

Crédito: Acervo Raquel de Queiroz – Colar com rocha basáltica do vulcão Osorno, ouro 18k e sete diamantes: a matéria conta sua história antes mesmo do esboço.

Para Raquel, a matéria-prima é o ponto de partida e a fonte de inspiração. “Vejo o material e já imagino o que ele pode se tornar”, explica. Uma folha seca no chão, uma pedra negra encontrada no vulcão Osorno, no Chile — tudo é convite à criação. “Sempre faço uma pesquisa sobre o material antes de incorporá-lo às criações.”

Joias que contam histórias

Crédito: Acervo Raquel de Queiroz -Quando o passado ecoa em forma de joia: ébano de um antigo piano francês e topázio imperial em um encontro raro entre história, arte e sofisticação.

Cada joia criada por Raquel carrega uma história: desde o ébano de um piano abandonado em Toulouse, que se transformou em peça única, até as recriações de joias antigas, que ganham nova vida e significado. “Minhas peças são únicas, feitas com muito cuidado na escolha dos materiais e na forma como são criadas”, ressalta.

Processo criativo: liberdade e experimentação

Crédito: Acervo Raquel de Queiroz -Cada peça nasce do improviso criativo e da harmonia entre tradição e inovação — como neste colar de fibras com pedra azul.

Seu processo criativo é livre de rituais rígidos. As ideias surgem espontaneamente, conectando memórias, materiais e desafios.

“Um exemplo que gosto de compartilhar aconteceu quando vi, certa vez, um cordão feito de galuchat — o couro de arraia — aplicado a uma joia. Fiquei fascinada. Procurei esse material em vários lugares, mas nunca consegui encontrá-lo. Anos depois, recebi um convite para expor em uma feira em Berlim, com o desafio de criar joias que combinassem têxtil e metal, no caso, prata. Aceitei e, para dar vida às peças, usei cordões de algodão sustentável da Justa Trama. A partir dessa experiência, nasceu também o desejo de explorar novos materiais, como o biocouro. Hoje, o algodão e o biocouro se complementam e se reconectam, dando origem a novas possibilidades. Não sigo nenhum ritual específico para criar: as ideias simplesmente surgem, e eu começo a idealizar como dar vida a elas”, declara.

Inspiração na biodiversidade brasileira

Crédito: Acervo Raquel de Queiroz – A riqueza da biodiversidade brasileira inspira composições que mesclam o artesanal e o nobre com originalidade.

O Brasil, com sua imensa biodiversidade, é uma fonte inesgotável de inspiração. Raquel vê em sementes, couros vegetais e materiais naturais possibilidades infinitas de inovação. “A maioria dos testes é positiva, mas mesmo quando não são, aprendemos muito”, observa.

Sustentabilidade como pilar criativo

Crédito: Acervo Raquel de Queiroz, ao final do desfile – uma criadora que valoriza cada elo da cadeia produtiva sustentável.

A sustentabilidade, pilar central em seu trabalho, surgiu como uma escolha inevitável. Observando que outros setores já caminhavam nessa direção, enquanto a joalheria ainda tateava, Raquel decidiu trilhar seu próprio caminho. Pesquisou profundamente materiais da biodiversidade brasileira, unindo-os a metais nobres, como o ouro e a prata.

“Meu trabalho é profundamente ligado ao reaproveitamento de materiais. Utilizo pedras e madeiras nobres que seriam descartadas por cutelarias e luthierias, além de sementes beneficiadas por comunidades indígenas. Recentemente, incorporei também o biocouro de cactos, o couro de micélio — feito a partir de cogumelos — e o couro de tilápia, todos obtidos por processos sustentáveis. No caso dos metais, só uso aqueles reciclados, recuperados de empresas que fazem o descarte de ácidos de maneira responsável. Trabalho apenas com fornecedores que tenham compromisso real com práticas ESG”, afirma.

Desafios no mercado brasileiro

Crédito: Acervo Raquel de Queiroz -Releitura contemporânea dos brincos da Imperatriz Dona Leopoldina- ouro, diamantes e esmeralda

Se a criação é fluida, a aceitação no mercado, por vezes, revela-se desafiadora. “O maior obstáculo é o consumidor entender a importância das práticas ambientais e sociais”, comenta e complementa ” Integro uma associação de joias sustentáveis na Espanha, que reúne associados de toda a América do Sul. No entanto, no Brasil, o cenário ainda é desafiador, especialmente quando falamos de metais. Enquanto na Colômbia já existem projetos para a extração de ouro sem o uso de mercúrio, aqui ainda se fala muito pouco sobre isso”.

Em sua trajetória, Raquel participou de pesquisas acadêmicas e integra associações internacionais de joias sustentáveis, mas ainda percebe o Brasil como um mercado em amadurecimento nesse aspecto.

Parcerias que fortalecem o autoral

Crédito: Acervo Raquel de Queiroz Sofisticação natural em movimento: formas geométricas, madeira, sementes e acrílico se encontram em uma composição que celebra o design sustentável com força, leveza e identidade brasileira.

Para Raquel, as parcerias são mais do que uma estratégia: são parte viva de sua história.

Ao lado da Leaf Eco, que cria óculos de madeira, e do Studio Map.a, referência em decoração artesanal, ela lançou uma linha para casa, feita com materiais de diversas empresas artesanais brasileiras. Cada colaboração acrescenta novas camadas à sua produção e fortalece a identidade de todos os envolvidos. “Trocamos experiências, testamos materiais e, juntos, transformamos nosso trabalho autoral. Cada encontro gera algo novo, reafirmando que a criação, quando compartilhada, torna-se mais rica, mais verdadeira e mais potente”, complementa.

O futuro da joalheria sustentável

Crédito: Acervo Raquel de Queiroz

Sobre o futuro da joalheria autoral no Brasil, Raquel é otimista, mas realista:

“O reaproveitamento de materiais é uma tendência crescente. Já extraímos muito dos nossos recursos naturais e temos a responsabilidade de reutilizar o que possuímos.”

Segundo ela, o consumidor precisa ser cada vez mais informado sobre o impacto da mineração e sobre a finitude dos recursos naturais.

Raquel de Queiroz nos convida a repensar o valor da joia além da estética — como símbolo de memória, de conexão com a natureza e de compromisso com o tempo em que vivemos.

Em cada peça, há não apenas técnica e beleza, mas também responsabilidade, escuta e respeito à origem de cada material.

Seu trabalho nos lembra que é possível criar com profundidade, transformar resíduos em arte, tradição em inovação e, sobretudo, beleza em propósito.

Ao unir sofisticação à sustentabilidade, Raquel não apenas desenha joias: ela costura histórias que atravessam continentes, culturas e consciências. E é justamente aí que reside a verdadeira preciosidade de seu ofício.

Tag: site www.raqueldequeiroz.com
email: raqueldequeirozjoias@gmail.com
landing page: www.rqzjoias.com.br
Instagram: @raqueldequeirozjoias​

Beatriz Negrão
Editora Sucursal São Paulo e Colunista
Carreira desenvolvida na área de Comunicação, atuando em empresas no Brasil e no exterior por mais de 10 anos. Publicitária, Jornalista, Pós-Graduada em Marketing pela ESPM com experiência em gestão de clientes e projetos. Como jornalista, escreveu matérias em diversas revistas do setor e proferiu palestras viajando pelo País, abordando o tema Agribusiness.
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