Estes tempos que queríamos curtos estão a alongar-se e ultimamente tenho pensado muito naquilo que será a nossa vida quando o covid-19 já não for assim tão mortal. Também tenho sido procurada para ajudar as empresas a desenvolverem programas de promoção da saúde mental, da autoestima e da longevidade. Tudo isto junto com o fim da Quaresma e as celebrações da Páscoa levaram a que escolhesse abordar o tema da espiritualidade como fator fundamental para a promoção da longevidade.

“Zonas Azuis”. O Explorador Dan Buettner observa zonas onde as pessoas tendem a viver mais de 100 anos

Dan Buettner. Pinterest.

A primeira vez que ouvi falar nesta relação positiva entre espiritualidade e longevidade, foi no famoso projeto das Zonas Azuis. Em 2009, se não estou em erro, o explorador Dan Buettner fez um trabalho sobre populações centenárias, para a National Geographic e descobriu as ditas “Zonas Azuis”, 5 zonas do Globo onde havia uma forte tendência para que as pessoas vivessem mais de 100 anos.

Moradores de Okinawa – Japão. Pinterest.

Vale a pena ver mais em detalhe o que, entretanto, já surgiu sobre o tema das Zonas Azuis (termo original em inglês é a tradução literal – Blue Zones). Destaco o fato de ele identificar a espiritualidade (fé segundo o autor) como um dos fatores de promoção da longevidade, em conjunto a importância de desenvolver o amor e laços sociais e afetivos positivos e de ter um propósito na vida.

Blue Zones — Costa Rica — Foto de Photograph by Gianluca Colla em National Geographic. Pinterest.

Quero chamar a atenção para o tema da espiritualidade porque é  fundamental para o ser humano ter uma noção do transcendente e para a relação com este transcendente. Se querer entrar num debate sobre o que é ter fé, ou o que significa o termo “fé”, o que sei é que especialmente em momentos de forte adversidade como os que vivemos, acreditar que somos mais do que o que vemos, mais do que o material e que estamos vivos porque temos uma missão a cumprir, dá sentido às nossas vidas e serve de força para viver.

A Fé Beneficia a Longevidade

Padre alemão Joseph Kentenich fundador do movimento Católico Schoenstatt. Pinterest.

Recentemente li sobre um padre que fundou o movimento católico de Schoenstatt. Trata-se de um movimento mariano fundado por um padre alemão – José Kentenich – que na altura da II Guerra Mundial é preso no Campo de Concentração de Dachau e sobreviveu. Como ele, temos outros casos de pessoas que conseguiram superar situações de extrema provação por causa da sua fé, por acreditarem que há Alguém que nos ajuda e que não temos de contar somente conosco.

A longevidade não é só uma questão de saúde física, é também uma questão de sentido de vida, de saúde emocional e social e é por isso que a componente da espiritualidade é importante. Quem vive uma espiritualidade saudável, ou seja, que é constitutiva de algo positivo para todos, acaba por ter uma razão para viver e para trabalhar em prol do bem comum e isso alimenta a saúde da alma.

Depois das descobertas relacionadas com as Zonas Azuis, outros estudos científicos sobre os “Super Seniores” mostraram resultados semelhantes e apontaram para a importância da espiritualidade, associada ao sentimento de ter um propósito na vida, como um fator de promoção da longevidade.

“Indústria do Legado” –  área da economia a ser impactada pelo envelhecimento

Pinterest.

Já tenho falado sobre o que se passa na minha geração os que hoje estão com 50 anos e com aquilo que estamos a construir, bem como sobre o processo de autodescoberta que vivemos. Em 2007 quando fiz o meu primeiro trabalho sobre envelhecimento e nessa altura conheci o Professor Joseph F. Coughlin que dirige o MIT-AgeLab. Na altura pedi-lhe que escrevesse um artigo sobre quais seriam as grandes áreas da economia impactadas pelo envelhecimento e uma das que ele apontou era a “indústria do legado”.

Joseph F. Coughlin, PhD, autor de The Longevity Economy. Pinterest.

Uma nova área da economia mundial que estaria ligada àquilo que nós queremos deixar às gerações mais novas, ao legado que os mais velhos querem deixar e que, de certa forma, alimenta a vontade de viver. O legado é a nossa pegada na história. Uma pessoa sem legado é uma pessoa que será eliminada da história, quando já não existirem razões para que esta pessoa seja lembrada.

A razão por que trago este tema e relaciono com a longevidade e com a espiritualidade é porque a vontade de deixar uma marca na vida dos outros é fruto do processo de maturidade, faz parte do ser-se humano, querer deixar algo às novas gerações. Mas para isso convém que tenhamos consciência que estamos a deixar um legado para que este seja frutuoso em si mesmo, mas também para nós.

Pinterest.

Muitas vezes a vivência da espiritualidade implica numa reflexão sobre nós mesmos, na relação com O transcendente, na nossa relação conosco e, depois, na nossa relação com os outros. É aqui que entra o legado, porque é o que resulta da nossa relação com os outros.

A Espiritualidade como sentido de existência

Missa do Galo, Vaticano. Pinterest.

Eu não posso falar de outras realidades que não seja a minha, porque não as estudei e tão pouco vivenciei. E a minha realidade nem sempre passou pela fé católica, passou pela astrologia, pelo reiki e o que vi foi algo pouco construtivo, especialmente no caso do reiki, que foi aquele que mais experienciei. Foi um período relativamente curto da minha vida, mas muito marcante porque estava à procura do transcendente e percebi que não estava ali.  Fui encontrá-lo no catolicismo porque é o que me fez, e faz, mais sentido.

Hoje em dia, com tudo o que tenho trabalhado em mim, com todo o meu percurso de autodescoberta, vejo que a vivência de Deus é-me estruturante. Percebo a minha missão, percebo onde estão os meus muros e medos e hoje, depois de ter vivido a Quaresma mais transformadora da minha vida, sei bem onde quero chegar e Deus tem um papel de Norte em tudo isto.

Esta pequena partilha serve tão somente de exemplo, porque a verdade é que com tudo o que me foi permitido viver nestes tempos, até ao Domingo de Páscoa, foram transformadores a todos os níveis (escrevo este texto no Domingo de Páscoa à noite). Inicio agora uma nova etapa da minha vida: a da aceitação e da ação. Aceitar a mulher que sou e que escondi ao longo de muitos anos e de ação que é, trazê-la à tona e tudo isto tem impacto na minha longevidade.

Primeiro, porque dá-me a força e ânimo para fazer ainda melhor o que faço bem. Depois, porque dá-me sentido à mudança que quero fazer na minha saúde física e mental.

Dalai Lama. Pinterest.

Por isso seja qual forma de espiritualidade que lhe fizer sentido, viva essa espiritualidade da melhor forma possível, para si e para os outros, e sem grande stress porque este é um caminho. Se não tem espiritualidade … bom, há sempre uma hipótese de procurar perceber o que está a bloquear esse lado da sua vida. E no limite, se isso não faz mesmo sentido (o que espero que não seja o caso), procure ao menos ter um propósito na vida. Porque isso sim é fundamental. É o que nos faz querer acordar todos os dias e viver!

 

Ana João Sepulveda
CEO da 40+ Lab
Expert em Economia da Longevidade e em Envelhecimento Sustentado
Presidente da Associação Age Friendly Portugal, Embaixadora da rede Aging 2.0, Membro do Covenant on Demgraphic Change, da Rede Portuguesa de Ambientes Seguros, Saudáveis e Amigáveis e vogal da direção da Associação Cidadania Social.

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