Este é o título de um livro que está a dar que falar. É o testemunho da ex CFO (Chief Financial Officer) da Microsoft, em Portugal, Rita Piçarra. Aos 44 anos deixa a sua carreira, com grande potencial de realização, para se reformar.

O testemunho de uma pessoa que pensou bastante bem a sua vida, trabalhou duro e de uma forma focada para fazer esta mudança de rumo na sua vida, numa idade bastante jovem.

Uma perspectiva interessante que já se vê em algumas pessoas que conjugam uma visão de futuro com condições familiares, emocionais e financeiras que lhes permitem, com relativa segurança, mudar o rumo da vida, em prol de uma forma de viver que visa promover, ainda mais, a sua longeviade.

Rita Piçarra. Pinterest.

De facto, quanto mais percebemos que vamos viver mais tempo, quanto mais buscamos a felicidade, mais provável se torna que apareçam outras Ritas pelo mundo a fora. Pessoas que percebem, numa dada etapa da vida, que a vida de trabalho (na visão tradicional do que é uma vida ativa de trabalho) não tem de ir até à idade formal de reforma. Mas que também encaram a reforma como algo diferente, como uma oportunidade de ter uma vida mais em linha com os seus valores e o que querem para si, para as suas famílias e para a sociedade em que vivem.

Se hoje ainda é algo reservado para aqueles que, como disse, têm condições especiais para o fazer, a verdade é que com a entrada da inteligência artifical cada vez mais no nosso dia-a-dia, e com a consolidação da longevidade como uma realidade na vida de todos, mais comum será ter a abertura de espírito, ou seja, a abertura emocional, para dar um passo deste tipo.


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Efetivamente, a vida não pode esperar e viver por viver, sem rumo, deixando que os dias se sigam uns aos outros, não só é aborrecido, como faz mal, leva à depressão, à perda de sentido da vida, e daí a um viver cada vez mais sufocante.

A vida não pode esperar e é bom que vivamos felizes, realizados. Ainda outro dia fui ao escritório de uma pessoa amiga e fiz aquela pergunta clássica: como estás? Ele respondeu-me: estou bem. Sinto-me realizado. Uau! Pensei. Fantástico! Mesmo. Que bom estar com uma pessoa que se sente bem com a vida, que se sente realizado.

Rita Piçarra. Pinterest.

Nesta nossa vida onde são diversas as fontes de apreensão, que nos levam a pensar que sentido faz estarmos aqui, ouvir isso (sinto-me realizado) até me fez sentir uma ponta de inveja. Ora aí está, como dizemos nós, cá em Portugal. Ora aí está! Também quero. Também quero poder responder a um outro que me pergunte como estou, que estou bem e que me sinto realizada.

Então vêm as perguntas: o que é isto de me sentir realizada? O que me faz sentir realizada? O que é preciso que eu faça para me sentir assim? O que está nas minhas mãos e o que está mais nas mãos dos outros? O que há em mim que é preciso mudar para que eu me venha a sentir assim?

Estas são as perguntas críticas. Perguntas que, para uns, podem ser de fácil resposta, mas para outros, nem tanto. Para os que não estão habituados a pensar sobre si mesmos, será sem sombra de dúvida, uma tarefa mais árdua. Mas que vale a pena.

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A vida não pode esperar ainda mais quando já se chegou aos 50, como é o meu caso. Vamos ter vidas longas, é um facto, mas o tempo da vida já não é assim tão longo. Optar por uma saída do mercado de trabalho aos 44 anos, quando ainda nem se chegou à metade da vida, exige uma compreensão do tempo de vida a viver numa idade que considero precoce.

A realidade é que aos 50, ou 55, ou 60, parece-me que “a vida não pode esperar” é um lema. Uma forma de estar. Esta é a proposta: que olhemos para nós mesmos, para a forma como estamos a viver e que pensemos se estamos a deixar que a vida passe por nós ou se estamos a atuar, de forma efetiva, na nossa vida, para que esta não seja somente um suceder de dias e anos e sim, uma boa experiência, com tudo o que uma experiência tem de positivo e de negativo, de fácil e de difícil.

Eu falo por mim, tenho feito um esforço para tomar consciência do tempo de via que ainda tenho pela frente e pensar no tipo de vida que quero ter. Porque, ainda mais no meu caso, não quero deixar passar o tempo e um dia “acordar” e ver que deixei a vida passar, disperdicei o tempo que me foi dado. O passado não mudo, mas o futuro posso moldar, pelo menos em certa medida.

Colunista:

Ana João Sepulveda
Expert em Economia da Longevidade e em Envelhecimento Sustentado
Presidente da Associação Age Friendly Portugal e Embaixadora da rede Aging 2.0

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